quarta-feira, 24 de setembro de 2008




A química, em auxílio à fotografia


Em 1604, o cientista italiano Angelo Sala, observou que certo composto de prata se escurecia quando exposto ao sol. Acreditava-se que o calor era o responsável.Em 1727, o professor de anatomia Johann Schulze, da universidade alemã de Altdorf, notou que um vidro que continha ácido nítrico, prata e gesso se escurecia quando exposto à luz proveniente de uma janela. Por eliminação, ele demonstrou que os cristais de prata halógena, ao receberem luz, e não o calor como se supunha, se transformavam em prata metálica negra. Como suas observações foram acidentais e não tinham utilidade prática na época, Schulze cedeu suas descobertas à Academia Imperial de Nuremberg.Em 1802, Sir Humphrey Davy publicou uma descrição do êxito de Thomas Wedgewood na impressão de silhuetas de folhas e vegetais sobre couro. Thomas, o filho mais moço de Josiah Wedgewood, o famosos ceramista inglês, estando familiarizado com o processo de Schulze, obteve essas imagens mediante a ação da luz sobre o couro branco impregnado de nitrato de prata. Mas Wedgewood não conseguiu "fixar" essas imagens, isto é, eliminar o nitrato de prata que não havia sido exposto e transformado em prata metálica, pois apesar de bem lavadas e envernizadas, elas se escureciam quando expostas à luz.A câmara escura também era do conhecimento da família de Wedgewood. Josiah a usava constantemente para desenhar casas de campo e copiar seus desenhos nas suas famosas porcelanas. No entanto, seu filho não chegou a obter imagens impressas com o auxílio da câmara escura devido à sua morte prematura, aos 34 anos.Aos 40 anos, Nicéphore Niépce se retirou do exército francês para dedicar-se a inventos técnicos, graças à fortuna que sua família havia feito com a revolução. Nesta época, a litografia era muito popular na França e, como Niépce não tinha habilidade para o desenho, tentou obter através da câmara escura uma imagem permanente sobre o material litográfico de imprensa. Recobriu um papel com cloreto de prata e expôs durante várias horas na câmara escura, obtendo uma fraca imagem parcialmente fixada com ácido nítrico. Como essas imagens eram negativas e Niépce queria imagens positivas que pudessem ser utilizadas como placas de impressão, determinou-se a realizar novas tentativas.Após alguns anos, Niépce recobriu uma placa de metal com betume branco da judéia, que tinha a propriedade de se endurecer quando atingido pela luz. Nas partes não afetadas, o betume era retirado com uma solução de essência de alfazema. Em 1826, expondo uma dessas placas durante aproximadamente 8 horas na sua câmara escura, conseguiu uma imagem do quintal de sua casa.Apesar dessa imagem não ter meios tons e não servir para litografia, todas as autoridades na matéria a consideram a primeira fotografia permanente do mundo. Esse processo foi batizado por Niépce de "HELIOGRAFIA", gravura com a luz solar.Foi através dos irmãos Chevalier, famosos ópticos de Paris, que Niépce entrou em contato com outro entusiasta que procurava obter imagens impressionadas quimicamente: Louis Jacques Mandé Daguerre. Este, durante alguns anos, causara sensação em Paris com o seu "Diorama", um espetáculo composto por enormes painéis translúcidos pintados por intermédio da câmara escura, que produziam efeitos visuais (fusão, trimensionalidade) através de iluminação controlada no verso destes painéis.Niépce e Daguerre durante algum tempo mantiveram correspondência sobre seus trabalhos. Em 1829 firmaram uma sociedade com o propósito de aperfeiçoar a Heliografia, compartilhando seus conhecimentos secretos.
Louis JacquesMandé DaguerreDaguerre, ao perceber as grandes limitações do betume da Judéia, decidiu prosseguir sozinho nas pesquisas com a prata halógena. Suas experiências consistiam em expor, na câmara escura, placas de cobre recobertas com prata polida e sensibilizadas sobre o vapor de iodo, formando uma capa de iodeto de prata sensível à luz.Dois anos após a morte de Nièpce, Daguerre descobriu que uma imagem quase invisível, latente, podia revelar-se com o vapor de mercúrio, reduzindo-se assim de horas para minutos o tempo de exposição. Conta a história que uma noite Daguerre guardou uma placa sub-exposta dentro de um armário onde havia um termômetro de mercúrio que se quebrara. Ao amanhecer, abrindo o armário, Daguerre constatou que a placa havia adquirido uma imagem de densidade bastante satisfatória, tornara-se visível. Em todas as áreas atingidas pela luz o mercúrio criava um amálgama de grande brilho, formando as áreas claras da imagem. Após a revelação, agora controlada, Daguerre submetia a placa com a imagem a um banho fixador, para dissolver os halogenetos de prata não revelados, formando as áreas escuras da imagem. Inicialmente foi usado o sal de cozinha, o cloreto de sódio, como elemento fixador, sendo substituído posteriormente por Tiosulfato de sódio (hypo) que garantia maior durabilidade à imagem. Este processo foi batizado com o nome de Daguerreotipia.Através do amigo Arago, que era então membro da câmara e deputados da França, Daguerre, em 1839, na Academia de Ciências e Belas Artes, descreveu minuciosamente seu processo ao mundo em troca de uma pensão estatal. Mas, dias antes, por intermédio de um agente, Daguerre requereu a patente de seu invento na Inglaterra.Rapidamente, os grandes centros urbanos da época ficaram repletos de daguerreótipos, a ponto de vários pintores figurativos, como Dellaroche, exclamarem em desespero: "A pintura morreu". Como sabemos, foi nessa efervescência cultural que foi gerado o impressionismo.Apesar do êxito da daguerreotipia, que se popularizou por mais de vinte anos, sua fragilidade, a dificuldade de se ver a cena devido à reflexão do fundo polido do cobre e a impossibilidade de se fazer várias cópias partindo-se do mesmo original, motivaram novas tentativas com a utilização da fotografia sobre o papel.
Hercules Florence - A descoberta isolada da fotografia no Brasil
O francês Hercules Florence, aplicou-se a uma série de invenções durante os 55 anos em que viveu no Brasil até sua morte, na Vila de São Carlos (Campinas).Em 1830, diante da necessidade de uma oficina impressora, inventou seu próprio meio de impressão, a POLYGRAPHIE, como ele a chamou. Seguindo a meta de um sistema de reprodução, pesquisou a possibilidade de se reproduzir usando a luz do sol e descobriu um processo fotográfico que chamou de PHOTOGRAPHIE, em 1832, como descreveu em seus diários da época, anos antes de Daguerre. Em 1833, Florence fotografou através da câmara escura com uma chapa de vidro e usou um papel sensibilizado para a impressão por contato.Enfim, totalmente isolado e sem conhecimento do que realizavam seus contemporâneos europeus Niépce, Daguerre e Talbot, obteve resultados fotográficos.

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